Maria Augusta Bárbara







fotografia: Filipe Ratz



Maria Augusta Bárbara



Maria Augusta Bárbara is an autobiography translated into dance. This is an auto-referential piece where she recalls all of her experiences in 20 years of artistic education as interpretative ballet dance. In this piece all methodologies of corporal movement, not just dance, but of our present-day society, allow the emergence of possible discourses about alienation and discipline processes. It proposes a performance-installation where classical dance codes are deconstructed through the dissection of its three pillars: equilibrium, lightness and verticality, in an attempt to contrast and promote a critical reflection about the corporal postures required both in execution and by the laws of behaviours that society imposes us.

In order to promote this dissection, the interpreter insists on repeating of the codes to the point of exhaustion. Repetition and exhaustion promote, in contrast, instability, weight and rupture with the vertical axis. Therefore, it renders problematic the procedures used in educational systems – school, family or the arts – proposing the first objective of the piece: to question educational methodologies that condition the body and submit it to castration and detriment to its creative and spontaneous potential. To this end, Maria Augusta Bárbara inquires about behaviour rules that we are submitted to in different spheres of social life. The piece asks at what point does one really have the autonomy to position themselves against the procedures and evidenced borders between obedience and subversion.
The narrow margin between body and environment is evidenced through the construction of the scene and the trajectory of the body through the space, experimenting with ways to re-signify the elements of the scene (leash, point shoes, muzzle and corset made of tape), rendering the installation a platform for dialogue between body, context and images.

Thinking of it as “functional architecture,” scene and movement impose conditions on the dancer’s motion, requiring of her a certain level of accord in order to make the performance possible. The movement of the dancer doesn’t allow the installation to be understood as a series of scenes, but as a collection of experiences/actions that makes itself explicit as she makes choices in this environment or which characterize the piece as an unfinished and continuous process, always subject to new connections.

The ambiance in Maria Augusta Bárbara is thought of as a compilation of information which takes place in the space where the body performs. The objects used compose the scene, more to a functional end and as imagery than just purely illustrative and allegorical. Therefore, point shoes, muzzle, tape, leash and rope compose this collection of objects that make explicit the relationship between body and ambiance. The performer, in direct relation to these objects, projects the discourses presented in the piece which refer to the “used, transformed and improved” (Foucault) at the same time as it generates strategies to help her to change her corporal state.

Realized in approximately one hour, this performance-installation permits the public to have the autonomy to enter and exit the space where it’s being performed, highlighting the position of the audience as a participant of the performance.





Maria Augusta Bárbara é uma autobiografia que se traduz em dança. É auto-referenciada nas experiências da intérprete junto à técnica do ballet clássico ao longo dos 20 anos da sua formação artística em dança, o que possibilita associá-la às metodologias de educação do corpo não só na dança, como também na sociedade atual, fazendo emergir possíveis leituras referentes a processos de alienação e disciplina. A obra propõe uma performance-instalação onde códigos da técnica clássica são desconstruídos pela desestabilização de três dos seus princípios mais recorrentes: o equilíbrio, a leveza e a verticalidade, na tentativa de criar contraste e promover reflexão crítica sobre as posturas corporais exigidas tanto na sua execução quanto nas regras de comportamento que a sociedade nos impõe.
Para promover a desestabilização desses princípios a intérprete insiste na repetição desses códigos até o estado de exaustão. Repetição e exaustão promovem, em contrapartida, o desequilíbrio, o peso e a ruptura com o eixo vertical. Deste modo, problematiza os procedimentos utilizados nos sistemas educacionais - sejam em âmbitos escolares, familiares ou artísticos - alcançando o objetivo primeiro da obra: questionar metodologias de ensino que condicionam o corpo e o submete à castração e ao adestramento em detrimento ao seu potencial criativo e à espontaneidade. Nessa direção, Maria Augusta Bárbara questiona as regras de comportamento que somos submetidos em vários âmbitos da vida social. Deste modo a obra pergunta até que ponto o sujeito tem autonomia para se posicionar diante desses procedimentos e evidencia lugares fronteiriços entre obediência e subversão.

A estreita relação entre corpo e ambiente é evidenciada pela construção do cenário e pelos trajetos do corpo no espaço, experimentando os caminhos para a resignificação dos elementos cênicos (coleira, sapatilha de ponta, focinheira e corpete feito de fita isolante), fazendo da instalação um território de diálogos entre corpo, ambiente e imagens.

Pensados enquanto “arquitetura funcional”, cenário e trajeto impõem condições nas ações da bailarina, exigindo da mesma que um conjunto de acordos seja realizado para que a performance aconteça. O percurso realizado pela bailarina não permite entender a instalação como uma amarração de cenas, mas sim como um conjunto de experiências/ações que vão se explicitando a partir das escolhas da performer neste ambiente, o que caracteriza a obra como um processo continuado e inacabado, sempre sujeito a novas conexões.

O ambiente, em Maria Augusta Barbara, é pensado como um conjunto de informações que se presentificam no lugar onde o corpo performa. Os objetos utilizados na cena compõem esse cenário, mais com um fim funcional e imagético do que com um fim puramente ilustrativo ou alegórico. Assim, sapatilha de ponta, fucinheira, fita crepe, coleira e corda compõem o conjunto de objetos com os quais as relações entre corpo e ambiente se explicitam. A intérprete, na relação direta com esses objetos, ressalta os discursos presentes na obra no que se refere ao “utilizável, transformado e aperfeiçoado” (Foucault) ao mesmo tempo em que gera estratégias para auxiliá-la na mudança do seu estado corporal.

A obra se realiza num período aproximado de 1 hora e por esse aspecto é entendida como uma performance-instalação, onde o público tem autonomia para entrar e sair do espaço onde ela se realiza, explicitando o lugar do fruidor enquanto participante da performance. São disponibilizados, ao redor do ambiente onde a bailarina performa, mesas, cadeiras e vinho, e o público passa a fazer parte desse cenário-ambiente-performance.