"O erótico posto em cheque, pela escuridão do desconhecido, pelo falecimento da certeza, pela condição de se por em teste. A pele em faixas aguça os sentidos, incomoda pela dissidência, excita pela contemplação. A curva das sombras, por uma beleza rara, se pré-dispõe e atiça em vermelho tamanho desejo. Um gentil caminhar que flutua, voa pelo arranjo de algo indeterminado, mas reconhecido nas afeições de qualquer um. A carne posta a prova remói a ética, questiona a libido, intui a essência, propõe uma interrogação: qual é o limite das nossas fronteiras? A peculiaridade que comanda o subconsciente dos seres pensantes é colocada em jogo. Num balé de extremismos a graça sede lugar para a dissolução, que reconhece-se pelo status-quo em lógica invertida e ressalta um questionamento que o limite impõe, a cada um sua medida. Precisão de uma lucides enjaulada, de uma permissão para a dor, de uma substituição da ordem que nos amarra em cada olhar, em cada impossibilidade de movimento, que invalida o âmago da indiferença por enquadramento. Sensibilidade vem a tona, arde em cada qual como se nos sucede ao acordar pelas manhãs, mas nem sempre estamos conscientes de nossas amarras. Nos deparamos com o couro em forma de beijo que pode simular a pureza do silenciado, de um cúmplice dos nossos medos. Transformado em desejo o sangue ferve, ardendo pela frescura da dor, com o poder de se perder o controle na embriaguez do instante. Insensatez do discurso calado, figuração de insurgência camuflada à flor da pele. Reconhecer-se a si próprio pela condição do outro, por caminhos obscuros que não se sabe nem chegar nem sair. Presas que te agarram a pele trazem à consciência as marcas que a vida nos insere, nos convida a senti-la em berço esplêndido. Não se trata de sofrimento induzido, masoquismo voluntário, mas da explicitação dos cotidianos reverberados pelos seres e, em plena luz da noite, assistido no corpo do outro."